Engenheiro elétrico com ênfase em telecomunicações, Tiago Roux de Oliveira é um carioca apaixonado por matemática, física e pelo seu time, o Vasco da Gama. Professor adjunto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e pesquisador do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), ele se dedica, com muita energia e bom humor, às áreas de sistemas de controle, automação e robótica.
Quando criança, colecionava e brincava com bonecos de desenhos animados. Segundo ele, todo brinquedo eletrônico acabava passando pela operação Frankenstein, um sinal de que a veia para a engenharia já aflorava no menino.”Após a remontagem sempre sobravam algumas peças”, relembra ele.
Aluno do Colégio Marista São José, na Tijuca, Tiago gostava bastante das disciplinas de biologia e história geral. Mas a matemática e a física eram as suas preferidas. “Inconscientemente talvez percebesse que elas são, de fato, a linguagem universal que pode conectar as pessoas com a natureza”, afirma o engenheiro, para logo dar asas ao seu lado mais poético: “É através da matemática e da física que podemos interpretar de maneira mais concreta todos os fenômenos fascinantes que estão à nossa volta. Elas instigam a curiosidade e desafiam a mente. Costumo pensar que a compreensão do invisível dá asas ao inimaginável. São elas, portanto, os verdadeiros agentes transformadores. Essa incessante busca só é possível por um entendimento formal e profundo da matemática e da física. Sem elas, todo o método científico e sua filha, a engenharia, minha paixão maior, não teriam o menor sentido”, diz.
Seguir a carreira de engenheiro sempre foi uma certeza para Tiago. A dúvida era, no entanto, qual das engenharias seguir. “Eram muitas opções. Escolhi engenharia de telecomunicações, um pouco influenciado pelo boom das telecomunicações no final dos anos 90. Entretanto, foi já cursando a faculdade no meu quarto período que decidi me especializar em controle, automação e robótica, que continuei estudando no mestrado e doutorado”, conta.
Podemos dizer que essa decisão veio por obra do acaso. Foi na livraria da Uerj, ao se deparar com uma atraente capa de livro que trazia a foto do robô autônomo “Sojourner”, usado na missão espacial “Pathfinder” da NASA em Marte, que Tiago teve uma inspiração. “Era o livro Sistemas de Controle Modernos, escrito pelo professor norte-americano Richard C. Dorf. Como não se apaixonar?!”
Tanto queria, que fez. Por meio do professor Nival Nunes de Almeida, da Faculdade de Engenharia da Uerj, Tiago entrou para a iniciação científica (IC) na Escola Naval. Lá, trabalhou com o controle e acionamento de um braço robótico e deu os primeiros passos concretos para o entendimento do tipo de pesquisa que gostaria de fazer. Foi com essas ideias que ele terminou a faculdade, obteve o título de engenheiro eletricista com ênfase em telecomunicações e, logo depois, seguiu para o mestrado e doutorado em ciências/engenharia elétrica pela Coppe/UFRJ. Tiago obteve o título de doutor com apenas 28 anos de idade.
Hoje professor do Departamento de Engenharia Eletrônica e Telecomunicações (Detel) da Uerj, Tiago dedica-se à teoria de controle aplicada a sistemas robóticos, veículos aéreos móveis (quadricópteros), freios automotivos ABS, fontes de energia renovável e também de sistemas biológicos relacionados à tecnologia assistiva, tais como eletroestimuladores funcionais para reabilitação neuromuscular. Na universidade o pesquisador encontrou a sua praia.
“Estar no meu escritório com meus alunos ou ainda tomar um café com os colegas me traz muita alegria. Nossas discussões vão muito além das equações ou das técnicas que desenvolvemos ou aprendemos. É um ambiente rico para a construção de nosso caráter e personalidade”, diz ele, que tem uma célebre frase de Confúcio como lema: “Escolha um trabalho que você ame e não terás que trabalhar um único dia em sua vida”. Por vezes, ele diz que chega a perder a noção do tempo até receber uma ligação da esposa, tarde da noite, perguntando se ele não vai voltar para casa. Telefonema esse prontamente atendido: “Sim, senhora”, conta ele, bem humorado
O pesquisador pediu que alguns agradecimentos especiais constassem de seu perfil. O primeiro deles, ao professor Liu Hsu, membro titular da ABC e seu orientador de mestrado e doutorado. “Aprendi muitas coisas com ele, a mais importante delas é a necessidade de sermos rigorosos na obtenção de nossos resultados. A criatividade e busca por novas ideias devem ser costuradas caprichosamente por um rigor matemático impecável”, disse.
O segundo na lista, é o professor Miroslav Krstic, da University of California, San Diego (UCSD). Tiago o conheceu durante o pós-doutorado nos Estados Unidos. “Com ele escrevi um trabalho inovador envolvendo Extremum Seeking with time Delays, um dos temas principais de minha pesquisa recente, publicado como full-paper na mais prestigiada revista de nossa área, a IEEE Transactions on Automatic Control. Vivenciei na elaboração deste artigo a necessidade de sermos pragmáticos em nossa metodologia, evitando-se armadilhas que possam consumir demasiadamente nosso tempo na busca por resultados inovadores. Disciplina e domínio da técnica precisam caminhar lado a lado. Uma reunião de cinco minutos com o Krstic significava um avanço de dias de trabalho”, afirma.
Tiago ressalta também o apoio recebido pelo professor Leonid Fridman, atual chair do Technical Committee on Variable Structure and Sliding Mode Control. “Fridman é um dos mais importantes pesquisadores da área de controle modos deslizantes, mas que recebe as pessoas com a naturalidade e simplicidade de um irmão. Um verdadeiro incentivador das futuras gerações, trabalhando com ele, pude aprender que fazer ciência pode (e deve) ser leve e divertido, apesar de todos os eventuais caminhos difíceis que tenhamos que passar e construir”, destaca.
Por fim, o pesquisador deixa um agradecimento especial à esposa Deborah Ribeiro Roux. “Tê-la ao meu lado faz tudo mais bonito em minha vida. Ela torna o fardo de desafiar o dia-a-dia mais leve e o caminho ao futuro uma jornada agradável. O amor verdadeiro é a única “ciência” no mundo capaz de fazer tudo possível. Sem equações exatas ou teorias perfeitas, mas completa de sentimentos”, diz.